quarta-feira, 28 de maio de 2014

A visão Analítico-Comportamental do Autismo

Para Green (2001, citado em Assis 2013), “do ponto de vista analítico-comportamental, o autismo é uma síndrome de déficits e excessos que [pode ter] uma base neurológica, mas que está, todavia, sujeita a mudança, a partir de interações construtivas, cuidadosamente organizadas com o ambiente físico e social”.
Segundo Schreibman e Koegel(1980), uma pessoa com comportamentos autistas tem como características principais déficits comportamentais em que seriam os comportamentos não apropriados com pouca frequência ou controle situacional disfuncional. Como exemplos de déficits comportamentais: a fala inadequada(ecolalia, mutismo, etc), inabilidade social (as pessoas são como objetos para o seu prazer), jogam de forma estereotipada e possuem emoções inadequadas. As outras características seriam os exageros comportamentais em que um comportamento teria muita frequência e/ou situações inapropriados, e os exemplos de exageros comportamentais seriam: birra, comportamentos autolesivos e auto-estimulação (Neri, 1987).
As crianças com comportamentos autistas também têm a dificuldade em generalizar seus comportamentos de acordo com as situações ou pessoas diferentes, sendo necessário o auxílio dos pais ou da escola, e até mesmo precisam da ajuda de um terapeuta que podem realizar programas mais específicos. Muitas vezes, os educadores e familiares mantém uma previsão do dia a dia da criança, mas isso não quer dizer que possa ter alguma alteração durante o decorrer da realização de suas atividades (Coimbra, 2013).
Para Silva(2013) os comportamentos disfuncionais ocorrem tanto em crianças consideradas como normais ou atípicas, sendo diferenciados somente pela frequência, intensidade e sua interação com o ambiente e comunidade verbal. Portanto, um comportamento disfuncional surge através das relações de contingências e na falta de reforçamento, isto é, um comportamento é reforçado quando uma consequência for aumentada ou retirada e pode ocorrer a extinção quando o comportamento não é mais reforçado.
O estudo do autismo na Análise Comportamental teve início com as teorias realizadas em laboratório com o Fester (1961, citado em Martins 2013) e Fester e DMyer (1961, 1962, citado em Martins, 2013), o qual mostrou que os princípios de aprendizagem são utilizados para alterar comportamentos de pessoas consideradas autistas, através da manipulação das variáveis de consequências e isso poderia levar ao aumento de um conjunto de comportamentos considerados funcionais e a redução ou eliminação dos comportamentos disfuncionais.
Ferster(1961, citado em Assis, 2013), acredita que os comportamentos autísticos seriam determinados pelo meio ambiente, não sendo somente causado por fatores biológicos. No entanto, existe um déficit nas contingências vindas do meio social, surgidos de esquemas de reforçamento intermitente e extinção, e isso causaria uma ineficiência na aprendizagem de comportamentos sociais e adequados. Esse déficit de contingências sociais causados pelo frequente reforçamento contínuo, daria o surgimento da estereotipia e auto-estimulação. Ferster (1961, citado em Assis, 2013) defende que existe uma inconsistência na educação dos pais quando eles interagem com os seus filhos ao meio social. O resultado disso é que a pessoa com comportamentos autistas não seria controlado pelos reforçadores condicionadores, não sendo capaz de discriminar quais os comportamentos seriam adequados para gerar consequências reforçadora, assim o seu contato com o ambiente social não seria reforçador para a criança. Isso resultaria no surgimento de um repertório comportamental formado somente por respostas ao ambiente físico e estimulação de comportamentos sociais inadequados (Assis,2013).
Fester (1961, citado em Neri, 1987) defendeu que uma pessoa com comportamento autista não tem variáveis históricas e ambientais funcionais, e assim o comportamento não é controlado pelas consequências acarretando um baixo desenvolvimento de repertórios mais complexos. Acredita-se que existe uma baixa taxa de respostas, de reforçadores condicionados e de estímulos discriminativos, devido o seu histórico de interação ser deficiente. Estudos de Fester sinaliza que na relação entre pais e filhos ou na sua interação social, muitas vezes não há reforçadores para a criança, então o comportamento deficiente é mantido (Neri, 1987).
Outros autores, acreditam que o autismo é reforçado no ambiente físico e deficiente no ambiente social. Spradlin e Brady(1999, citado em Assis, 2013) defende que a criança com comportamentos autístico devem ter uma solidez nas variáveis de uma análise funcional e no reforçamento, para que o controle de estímulo interaja com outras variáveis de uma forma consistente, caso contrário se esse controle de estímulo for limitado isso irá evidenciar os comportamentos autísticos que estabelecerá um repertório e um controle de estímulos restrito.
Após ter obtido bons resultados no laboratório de como reforçar os comportamentos de uma criança com comportamentos autísticos, os pesquisadores começaram a trabalhar em outros ambientes em que as crianças viviam, tais como: escolas, hospitais, casas, instituições. Alguns estudiosos introduziram o tratamento comportamental da clínica para a casa de pessoas com comportamentos autistas, utilizando técnicas de generalização e orientando os pais em como diminuir os comportamentos inadequados de seus filhos (Schwartzman, 1995).
A relação de pais com as crianças com comportamentos autistas foi estudado por Kanner desde 1943 e em um dos seus artigos ele questionava a interação desinteressada e indiferente entre pais e filhos e como isso ajudava a manter os comportamentos autísticos da criança. Como os pais são as primeiras pessoas mais importantes na vida social de uma criança, então eles exercem uma influência muito grande sobre como manter os comportamentos funcionais e disfuncionais. Um exemplo clássico é quando a família está num contexto aversivo ao lidar com a criança autista e aplicam o reforçamento negativo para se livrar de comportamentos disfuncionais da criança autista, então isso contribui para instalação e a manutenção do repertório falho (Gouveia, 2013).
No entanto, sobre crianças com comportamento autista, são descritas em quatro itens: a primeira seria que os princípios de aprendizagem são aplicados a essas crianças, segundo item seria que a criança autista tem vários comportamentos inadequados diferentes e poderia ser melhor definido como retardo de desenvolvimento, assim ensinando a criança com comportamento autista por passo a passo, o terceiro item seria que a pessoa com comportamentos autistas aprenderiam em lugares mais específicos e no quarto item mostra que deve haver manipulação do ambiente para que a pessoa com comportamentos autistas tenha sucesso tantos em ambientes normais como em ambientes especiais (Schwartzman, 1995).
Portanto, seria necessário a ampliação e desenvolvimento dos comportamentos adequados de um autista, trabalhando os comportamentos deficientes. Outro fator importante seria ter um controle adequado de estímulos ambientais relacionados a família, sociedade, escola. Caso, haja estímulos aversivos a criança autista não responde por não ter um sentido motivacional, além de não responder a outros estímulos que são reforçadores para crianças normais. A criança com comportamentos autísticos não age de forma normal por ter escassez de reforçadores condicionados “normais”, então, os estímulos discriminativos para as
respostas são poucos prováveis de acontecerem. No entanto, o tratamento seria a criança se comportar através de um controle eficiente de estímulos ambientais (Neri, 1987).

Nenhum comentário: