Modelo
Médico x Modelo Psicológico:
O
CID-10 é uma classificação da psiquiatria na medicina tradicional,
que vê o transtorno como “doença mental”, descrevendo um
conjunto classificado de síndromes e sintomas. Além, do
CID-10(Código Internacional de Doenças) existe também o
DSM-IV(Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais)
na quarta versão, onde ambos são publicações que servem para
classificar as doenças e diagnósticos (Gongora, 2003).
O
autismo infantil está classificado no CID-10 como F84.0 e é um
transtorno que ocorre antes dos 3 anos de idade, tendo prejuízo na
área social e na comunicação. A criança pode também ter
comportamentos inadequados, restritos, estereotipados e repetitivos,
mantendo padrões de hábitos e rotinas. O transtorno acontece com
mais frequência nos meninos do que nas meninas (CID-10, 2008).
Segundo
o CID 10, além da criança ter comprometimento na interação
social, pode ter déficits na área emocional, dificuldade de se
expressar e manter intercâmbio de conversação. Há também um
prejuízo na criatividade, iniciativa e fantasia, que seria o
pensamento mais abstrato. A criança autista gosta de manter rotina
no seu dia a dia, impondo rigidez nos hábitos familiares e nos
padrões de brincadeiras. Pode ter comportamentos estereotipados
focando seu interesse em datas e horários. É comum resistir a
mudanças de rotina ou se apegar em algum detalhe do ambiente em que
vive. O autismo pode estar associado a outros transtornos, e muitos
podem ter retardo mental. Ocorre uma variação de déficits a medida
que a criança cresce e muitos dos sintomas podem continuar pela vida
inteira (CID-10, 2008).
Já
o DSM-IV (2002), o transtorno autista está classificado como 299.00
e como o CID-10 defende as características mais comuns num autista
que é o déficit nas habilidades sociais, emocionais e na
comunicação, com um repertório de atividades e interesses muito
restrito e estereotipado.
Para
o DSM-IV (2002), muitas crianças autistas preferem atividades
solitárias, podem ignorar a outra criança e muitos não tem
capacidade de desenvolver empatia pelo próximo. Além de umas
habilidades serem afetadas, a criança autista pode não compreender
perguntas, não entender brincadeiras ou expressões abstratas,
possuir uma linguagem estereotipada e repetitiva e pode ter o nível
intelectual comprometido.
No
entanto, surgiu o Modelo Alternativo que criticou o modelo médico
adotado pela psiquiatria, e os principais pesquisadores foram Fester,
Ullmann e Kransner. Mas, a reformulação ficou conhecida como
Modelo Psicológico, e essa teoria acredita que os princípios de
aprendizagem e a manutenção de um comportamento inadequado ou
anormal é igual ao comportamento normal e adequado. Isso significa
que todo comportamento aprendido pode seguir princípios e com isso
pode ter uma alteração no comportamento. Sendo que, esses
princípios de aprendizagem não possuem características como normal
ou anormal, isto é, eles têm os mesmos processos e são neutros
(Gongora, 2003).
O
Modelo Médico utiliza critérios baseados em influências sociais e
culturais para classificar um comportamento como saudável ou
patológico. Já o Modelo Psicológico qualifica um comportamento
como normal e anormal. No entanto, as regras de uma sociedade podem
diversificar de uma sociedade para outra, sendo um comportamento
normal para alguns ambientes e anormais para outros. Então, é
necessário questionar os comportamentos de uma pessoa, para que o
CID-10 e o DSM-IV não classifique essa pessoa com um comportamento
disfuncional, através de normas universais (Gongora, 2003).
Um
comportamento é considerado patológico quando tem uma influência
social e segue as normas socioculturais. Muitas vezes, as normas
sociais são diferentes de uma cultura para outra cultura, isto é, o
que é normal numa sociedade pode ser anormal em outra sociedade.
Diante do exposto, essa discussão questiona as classificações
universais do CID-10 e do DSM-IV, para qualquer tipo de cultura ou
sociedade.
O
Modelo Psicológico é baseado nas teorias de aprendizagem e na
análise do comportamento, e deixa de lado a classificação
universal de doenças, realizado pelo Modelo Médico. A teoria
operante da aprendizagem acredita que o comportamento é interativo
quando o homem tem contato com o ambiente para receber estímulos, e
o comportamento pode ser também adaptativo e funcional a medida que
ele é modelado e mantido pelo ambiente. Portanto, todo comportamento
que foi aprendido e mantido durante uma vida pode sofrer alterações,
desaparecer ou se adaptar (Gongora, 2003).
Para
finalizar, o Modelo Psicológico conceitua o comportamento como
“comportamento-problema” e não como “patológico”, segundo o
Modelo Médico. Assim, o terapeuta deve tratar o cliente como uma
pessoa normal, ajudando a analisar e adaptar seus comportamentos de
acordo com as regras do seu ambiente e livrando de comportamentos
influenciados pela cultura que tem a origem na “anormalidade”
(Gongora, 2003).
A
importância de diferenciar os dois modelos para a monografia, foi
perceber a diferença das duas metodologias e como se desenvolveram
no decorrer dos anos, onde o Modelo Psicológico trabalha de uma
forma mais humanizada e foca no desenvolvimento de habilidades e na
reabilitação do paciente, já o modelo médico, apesar de sua
grande contribuição, visa somente o uso de medicação e assim,
rotular uma pessoa como portadora de uma doença que muitas vezes não
tem cura aos olhos da psiquiatria.
Atualmente,
é necessário analisar que há uma considerável quantidade de
pesquisas e artigos sobre o tema autismo, e ainda existem muitas
informações a serem descobertas e confirmadas cientificamente. E a
intenção dos pesquisadores da área da psicologia, psiquiatria,
entre outras, é aumentar o conhecimento sobre o transtorno e isso
pode fornecer informações às pessoas de como lidarem com o
autismo, ajudando o portador e os familiares, escola e outros
ambientes sociais. Ter o diagnóstico correto por um profissional
especialista ajuda com o desenvolvimento de um autista e é o
primeiro passo para a pessoa portadora do autismo saber da
necessidade da medicação ou somente se beneficiar da psicoterapia e
dependendo de cada caso pode ser necessário um acompanhamento
interdisciplinar.
No
entanto, os princípios e pressupostos do Behaviorismo Radical têm
ajudado muito no tratamento de autista. O terapeuta que atua na
clínica e se beneficia das teorias e práticas da Terapia
Analítico-Comportamental, tem uma visão aprofundada e obtém muitas
informações sobre a criança durante a terapia. Esses dados são
muito importantes para fazer a intervenção e selecionar os
procedimentos para o tratamento ser eficaz. Portanto, no próximo
capítulo será analisado e estudado de uma forma mais detalhada
sobre o histórico, os princípios e pressupostos do behaviorismo.